Avaliação do acesso de pessoas com diabetes mellitus aos serviços de saúde especializados no município de Recife

Abstract

Acesso aos serviços de saúde é um direito universal e um grande desafio para os sistemas de saúde, globalmente. A pandemia da Covid-19 gerou interrupções na prestação de serviços em saúde em todo o mundo, em especial na assistência à saúde de pessoas com doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT), dentre elas o diabetes mellitus (DM). Este estudo avaliou o acesso de usuários com DM a consultas especializadas em endocrinologia, na rede municipal de saúde do Recife, analisando o perfil sociodemográfico, o número de consultas agendadas e o tempo médio de espera, comparando os três primeiros anos antes (2017-2019) e durante a pandemia da Covid-19 (2020-2022), bem como buscou identificar falhas e vantagens do sistema de regulação (SISREG) e as principais barreiras e facilitadores ao acesso a consultas especializadas. Foi realizada uma etapa quantitativa, a partir da análise estatística de dados secundários do SISREG e uma etapa qualitativa, a partir de entrevistas semiestruturadas aplicadas a usuários, trabalhadores de saúde de uma unidade básica de saúde (UBS) e trabalhadores da central de regulação municipal, analisadas pelo método da análise de conteúdo. O roteiro das entrevistas e a escolha das categorias foram baseadas no modelo conceitual de Levesque para estudar o acesso à saúde. No período pandêmico, houve redução significativa de 22,2% no número de consultas agendadas, em paralelo a uma redução de 20% no tempo de espera pela consulta, com 91% dos agendamentos ocorrendo em até 2 meses, nos dois períodos analisados. As principais barreiras ao acesso, na visão dos usuários, foram a necessidade de ir à UBS para obter os dados do agendamento, a percepção de um prolongado tempo de espera pela consulta com o especialista e o fato de não receberem o aviso da consulta por mensagem de celular. Os profissionais apontaram: falhas no preenchimento das solicitações, o SISREG não mais se acomodar às necessidades da rede municipal, a falta de protocolos de regulação e a extrema centralização das unidades executoras. Como facilitadores, foram destacados pelos usuários: a introdução do aviso por mensagens de WhatsApp, a proximidade com o local da consulta e a satisfação com o atendimento do especialista, enquanto para os profissionais, foram facilitadores o aumento na bancada de médicos reguladores, a completa oferta do serviço de média complexidade dentro da rede própria do município. Para pessoas com diabetes, no município do Recife, houve redução no agendamento de consultas em endocrinologia no período pandêmico, em paralelo a uma diminuição do tempo médio de espera por tais consultas. Entender as principais barreiras e facilitadores a este acesso pode direcionar o monitoramento e auxiliar na tomada de decisões dos gestores e na fiscalização do cumprimento das políticas públicas..