Consumo comunitário de antibióticos de uso sistêmico no Brasil: um estudo de base populacional

Abstract

O Brasil é reconhecido como o maior consumidor de antibióticos dentre os países da América Latina, apesar de medidas restritivas implementadas desde 2011. Até o momento, nenhum estudo de base populacional, em série histórica de sete anos, com enfoque no consumo comunitário de antibióticos de uso sistêmicos (ATB J01) foi realizado no país. O presente estudo teve como objetivo descrever o consumo de ATB J01 em jovens e adultos no Brasil, a partir dos dados de dispensação registrados no Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC), de 2014 a 2020. Trata-se de banco administrativo, o que exigiu procedimentos preliminares de preparação dos dados, que incluiu exclusão, vinculação e transformação de dados. A análise considerou o consumo geral de ATB J01 e a alocação dos ATB J01 segundo a Who AWaRe Classification, a partir das medidas Dose Diária Definida (DDD) por 1000 habitantes (DID); taxa de crescimento anual composta (CAGR); indicadores de qualidade no uso comunitário de ATB J01; consumo relativo de cada grupo WHO AWaRe Classification sobre o consumo total de ATB J01; e, o índice Acesso-Vigilância. Os ATB J01 representaram 49,3% dos registros extraídos e selecionados a partir do SNGPC durante o período estudado. O trabalho evidenciou diferenças regionais no percentual de registros e no consumo medido pela DID. O país segue uma trajetória ascendente de consumo de ATB J01, com crescimento CAGR = 4,8%, e, em apenas seis estados essa taxa foi negativa O antibiótico com os maiores valores de DID e percentualmente de maior consumo foi a azitromicina (J01FA10). Ao longo da série, o Brasil não demostrou conseguir fixar o consumo de Acesso em 60%, frente aos demais grupos. E o índice Acesso-Vigilância ratificou a tendência maior de consumo dos agentes alocados no grupo Vigilância. O ano de 2020 destoa da série, especialmente quando comparado ao ano anterior; houve aumento no consumo total de ATB J01 de 31,5%, com destaque para os macrolídeos (aumento de 71%) e a razão entre o consumo de amplo espectro e de espectro estreito se elevou em 67,9%. Considera-se que o estudo permite uma visão tanto generalizada como apurada do consumo de ATB J01, oportunizando destaque para cenários favoráveis à resistência microbiana. Espera-se que forneça pontos de partida e construção para programas de monitoramento no uso comunitário de ATB J01 no país.