História das leishmanioses no Novo Mundo: um breve panorama

Abstract

“A leishmaniose é uma doença de cães e daqueles que levam uma vida de cão” - declarou um parasitologista do Ceará nos anos 1950. Isso é verdade, mas no Brasil a doença vem rompendo barreiras sociais e geográficas que caracterizavam sua distribuição inicial. Nas publicações a esse respeito feitas no pós-guerra por médicos e cientistas brasileiros observa-se crescente intercâmbio com investigadores dos Estados Unidos e de outros continentes estimulado por programas da OMS e de outras agências, e pelo fato de que as leishmanioses ressurgiam em áreas rurais e disseminavam-se por áreas urbanas e regiões até então consideradas indenes. O processo global de agravamento da mortalidade e morbidade pelas diferentes formas da doença é atribuída a mudanças ambientais e climáticas, a diversos processos económicos e sociais, à urbanização desordenada e as guerras. As leishmanioses apresentavam outro aspeto perturbador. A toxidez, inconfiabilidade e custo elevado dos terapêuticos usados em seu tratamento. Embora representem um risco grave à saúde, continuam a ser negligenciadas na agenda da saúde pública, e esta condição agravou-se depois que as atenções do mundo se voltaram para a pandemia de COVID-19. No Brasil, observa-se um contraste entre a relativa invisibilidade das leishmanioses nas políticas de saúde pública e o grande interesse por ela como objeto de pesquisas científica.