Doença de Chagas no Estado de Pernambuco: uma abordagem molecular sobre o diagnóstico das diferentes fases da infecção e de acompanhamento pós tratamento etiológico

Abstract

A doença de Chagas, causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi (T. cruzi), é um importante problema de saúde pública. Existem técnicas diagnósticas específicas para cada uma das duas fases da doença, mas estudos recomendam à busca por outras metodologias tanto para o diagnóstico, como para o acompanhamento pós tratamento antiparasitário. O presente trabalho avaliou a aplicabilidade da PCR quantitativa em tempo real (qPCR) para diagnóstico da doença de Chagas crônica em amostras suspeitas, procedentes de hospitais, centros médicos e Secretarias Municipais de Saúde do Estado de Pernambuco, bem como em amostras coletadas para o acompanhamento terapêutico dos indivíduos submetidos ao tratamento após surto da doença de Chagas ocorrido em 2019, e amostras de pacientes crônicos com suspeita de reagudização da infecção, que passariam por transplante de órgãos, foram encaminhados a partir do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP), recebidas por livre demanda pelo Serviço de Referência em Doença de Chagas (SRDC – IAM/Fiocruz). Amostras de indivíduos com testes sorológicos negativos para a infecção por T. cruzi foram utilizadas como controle negativo. O sistema de primers TcSAT-IAM, que tem por alvo o DNA satélite (SAT-DNA) de T. cruzi, foi utilizado. O sistema foi aplicado ainda em amostras extraídas a partir de hemoculturas, e os resultados foram comparados entre as técnicas. Para o diagnóstico da fase crônica 310 amostras foram testadas, e os resultados indicaram concordância mínima entre os testes, com sensibilidade, especificidade e acurácia de 12,84%, 100% e 58,39%, respectivamente, sendo os resultados concordantes com a literatura, que destaca a dificuldade de estabelecer um diagnóstico molecular para esta fase da doença. Para o acompanhamento pós-terapêutico de indivíduos tratados na fase aguda, a qPCR teve resultados negativos, demonstrando sua aplicabilidade para avaliar falha terapêutica. Para o acompanhamento pós-transplante, a qPCR detectou o DNA parasitário em 10 dos 11 casos avaliados, sendo capaz de identificar a reagudização da infecção antes dos testes parasitológicos. Em amostras de hemocultura, o diagnóstico ocorreu nas 3 amostras testadas, demonstrando que a associação dessas técnicas aumenta a sensibilidade da qPCR.