Discutindo a formação em residência multiprofissional em psicologia: contextualização, apontamentos e desafios

Abstract

A Residência foi criada inicialmente dentro do âmbito da medicina como modalidade de pós-graduação (Silveira, 2005, como citado em Ferreira e Olschowsky, 2010) e somente em 2005, 24 anos após a aprovação da Residência Médica, foi instaurada a Residência Multiprofissional no Brasil, incluindo outros núcleos da área da saúde como a Psicologia. Lobato, Belchior e Baduy (2012) salientam os diferenciais educacionais da Residência Multiprofissional, tais quais: o trabalho mediante as necessidades da população, o trabalho multidisciplinar e a institucionalização da Reforma Sanitária Brasileira. Apesar de ser um programa estruturado há pelo menos uma década, as RM ainda encontram inúmeros desafios que vão de encontro a outros tantos enfrentados na efetivação do Sistema Único de Saúde do Brasil. Rossoni e Lampert (2004) apontam que a mera aprovação das leis regulamentadoras do trabalho em saúde não são suficientes para garantir que seus eixos norteadores sejam incorporados ao ensino. Considerando a importância desta modalidade de formação em seus dez anos de existência, o artigo tem o objetivo de discutir a criação e efetivação dos programas de Residência Multiprofissional com enfoque em Psicologia, levando em consideração o que está sendo produzido sobre o tema, aspectos históricos, a formação em graduação que precede a RM, as principais necessidades e desafios desta modalidade de pós graduação e sua pertinência no exercício da profissão no âmbito do Sistema Único de Saúde. Para tanto, foram realizadas buscas nos principais veículos de pesquisa acadêmica do Brasil (Scielo, Lilacs, Pepsic, e BVS) com os descritores “residência multiprofissional” e selecionadas as produções realizadas entre 2009 e 2015, que tivessem como foco aspectos pedagógicos, históricos e práticos desta formação em Psicologia. Diretrizes curriculares de 2011 dão grande importância à Psicologia da Saúde e suas práticas, cujo crescimento nos últimos anos foi extremamente significativo. Entretanto, as necessidades do Sistema Único de Saúde parecem estar ainda hoje pouco atrelados à formação universitária. É importante salientar que estas duas instâncias devem caminhar juntas na elaboração e execução de políticas públicas voltadas para as necessidades reais da comunidade, como pressupõe a Lei nº8080. Da Silva e Caballero (2010) ressaltam as dificuldades de transpor um modelo da medicina tradicional às demais especialidades sem promover um espaço de articulação, como o fazem vários programas multidisciplinares. São ressaltados os hiatos presentes entre a formação universitária e o serviço em saúde, e como a Residência Multiprofissional pode se inserir neste processo como eixo estruturante da formação em saúde.