Conversas e controvérsias: uma análise da constituição do TDAH no cenário científico nacional e educacional brasileiro

Abstract

No presente trabalho investigamos o processo de expansão e legitimação social do diagnóstico do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) no Brasil. Para tanto, analisamos publicações científicas brasileiras sobre comportamentos de desadaptação escolar, bem como um conjunto de materiais que se destina à divulgação do TDAH disponíveis no site da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), de forma a circunscrever o debate voltado para o estabelecimento deste conceito nosológico. Procuramos mapear o processo recente de biologização da compreensão dos comportamentos humanos no Brasil e como as diferentes concepções, quer organicistas ou não, se opõem ou se conectam na construção da entidade TDAH. A investigação desses discursos múltiplos objetivou discutir como se constitui, a partir de um modelo científico e do empenho em torná-lo hegemônico, uma conceituação nosológica para as condutas de desadaptação infantis, tendo em vista a interface que ela mobiliza entre os campos da saúde e da educação. Finalmente, articulamos a expansão do transtorno no Brasil e no mundo a aspectos sócio-históricos mais amplos, como a crescente biologização e objetivação da compreensão dos comportamentos humanos; a cientificização da vida cotidiana; a perda de poder simbólico da psicanálise no Brasil a elas relacionadas; os deslocamentos contemporâneos nas fronteiras entre o normal e o patológico; a eficácia de um medicamento na melhoria da adaptação social e educacional dos indivíduos; e o ideal descontrole das incertezas futuras.