Avaliação da implementação de ações de prevenção das DST/AIDS na atenção primária à saúde (APS): limites atuais e propostas para avançar

Abstract

Introdução: A implementação o da prevenção das DST/aids nos serviços de APS é uma diretriz nacional que há duas décadas conta com investimentos. Estudos, contudo, tem identificado, na prática dos serviços, baixo grau de implementação e distanciamento dos referenciais teóricos que orientam a prevenção. Visando aprofundar a compreensão sobre esses limites, realizou-se estudo avaliativo baseado no referencial da organização tecnológica do trabalho em saúde e no princípio da integralidade. Objetivo: Categorizar analiticamente os limites atuais para a implementação da prevenção das DST/aids na APS e, a partir deles, sugerir estratégias para avançar. Métodos: Estudo de caso explanatório, realizado por observação direta e entrevistas em profundidade com gestores do Programa Municipal de DST/Aids e trabalhadores de uma unidade de saúde da família. Dados foram submetidos à análise temática e depois agrupados em dois blocos: limites da implementação e propostas para superação. Resultados: Os principais limites foram agrupados em três conjuntos: perfil tecnológico predominante (priorização do atendimento médico, individual e curativo, contrapondo-se ao discurso de priorização preventiva e subvalorizando atuação dos demais profissionais); restrito diálogo com usuários e entre os profissionais (ações centradas no repasse unilateral de informações aos usuários, sem espaços sistemáticos de discussão em equipe); insuficiente definição tecnológica das atividades de prevenção das DST/aids nos documentos normativos. A superação desses desafios requer ações que promovam: reconhecimento da complexidade do cuidado na APS, valorizando suas especificidades tecnológicas; investimento técnico e de gestão em atividades organizacionais, com planejamento coletivo e solidário da organização de processos de trabalho que respondam à finalidade preventiva da APS; investimento em estratégias de formação que recuperem a dimensão dialógica das práticas de saúde, oferecendo aos trabalhadores instrumentos para qualificar sua atuação preventiva. Conclusão: Avanços em direção à efetiva implantação de ações de prevenção das DST/aids na APS não podem depender apenas da ação e da postura de cada profissional do serviço. Requerem investimentos na gestão e no gerenciamento local dos serviços, particularmente voltados para o adensamento tecnológico das diretrizes de implementação e para o fortalecimento técnico e comunicacional das equipes.