Please use this identifier to cite or link to this item:
https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/43884
BANCO MUNDIAL, “GÊNERO" E COLONIALIDADE: APORTES DESDE A “AMÉRICA LATINA”
Gênero e Saúde
Feminismo
Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento
Saúde Pública
Santos, Danieli Aparecida dos | Date Issued:
2020
Advisor
Co-advisor
Affilliation
Fundação Oswaldo Cruz. Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio. Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional em Saúde. Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Abstract in Portuguese
Discussões acerca do papel das mulheres nas políticas desenvolvimentistas têm marcado o cenário internacional a partir da década de 1970. Instituições financeiras como o Banco Mundial (BM) vêm elaborando conceitos e ferramentas analíticas acerca da condição socioeconômica das mulheres e sobre como as disparidades de gênero se articulam ao desenvolvimento econômico. Fundado em 1944 com o mandato de fornecer suporte financeiro para a reconstrução de países no pós-guerra, o BM tem se consolidado como ator político, intelectual e financeiro, que associa a concessão de empréstimos ao apoio técnico para elaboração de políticas públicas, desenvolve uma vasta produção intelectual e exerce liderança na organização de políticas, sobretudo endereçadas aos países do Sul global. Gênero, então, é tratado neste estudo como objeto situado no entrecruzamento de campos de saberes diversos e minha forma de acessá-lo se deu a partir dos estudos feministas, compreendendo-os como teoria política, ética filosófica, movimento social e posição política. A inserção de questões relacionadas a gênero no campo da saúde coletiva se deu no Brasil a partir de 1980. A utilização do termo passou a figurar nos estudos teóricos na década de 1990, ganhando força a partir dos anos 2000, sendo a questão, na saúde coletiva, inscrita criticamente no caráter multidisciplinar da área e, neste sentido, a compreensão das desigualdades de gênero se situa no contexto da determinação social da saúde. Investigou-se o tema no âmbito de uma antropologia da dominação, buscando-se analisar o contexto histórico-social em que o BM vem atuando e desenvolvendo suas práticas sociais, os referenciais teóricos e ideológicos que as sustentam, os modos como a instituição tem elaborado proposições sobre a temática de gênero para a região da América Latina e Caribe. Pautando-me nos aportes decoloniais, atentei para as lógicas imperialistas/colonialistas que marcam tanto a delimitação do continente como a própria “ideia” de América Latina. Gênero tem sido utilizado de diversos modos: em oposição a sexo, contrapondo fatores biológicos aos culturais; de modo indistinto a sexo; como variável empírica ao invés de categoria de análise; como substituto à mulher ou ainda com ênfase no aspecto relacional, sem, no entanto, que se considerem as desigualdades de poder. Embora retoricamente o BM faça referência à equidade e à justiça social, seus principais argumentos são, e a questão de gênero não foge à regra, econômicos e instrumentais, longe da consideração de gênero em sua constituição com classe, raça e sexualidade. O BM reveste suas práticas e proposições teóricas de uma aparência técnica de neutralidade, mas é altamente normativo, promovendo e construindo uma colonialidade do saber no tratamento da questão, o que se revela sobremaneira na construção de representações sobre mulheres, homens e gênero. A partir de uma perspectiva decolonial, o aparato de gênero que o Banco vem operando pode ser lido como inscrito na colonialidade de gênero, que se refere à opressão de gênero racializada capitalista. A forma como é operacionalizado pelo BM o conceito de gênero, em conjunção com os de agência e empoderamento, marcantemente estruturada pela subordinação ao mercado e à lógica neoliberal, não deixa margem para a construção e fortalecimento de laços de solidariedade coletivas.
Abstract
Discussions about the role of women in development policies have marked the international arena since the 1970s. Financial institutions such as the World Bank (WB) have been developing concepts and analytical tools about the socioeconomic condition of women and how gender disparities are articulated in economic development. Founded in 1944 with a mandate to provide financial support for the reconstruction of postwar countries, the WB has consolidated its position as a political, intellectual and financial actor, linking lending to technical support for public policy making, developing a vast intellectual output and exercising leadership in the organization of policies, particularly directed at countries in the global South. Gender, then, is treated in this study as an object situated at the intersection of different fields of knowledge and my way of accessing it was based on feminist studies, understanding them as political theory, philosophical ethics, social movement and political position. The insertion of gender-related issues in the field of public health took place in Brazil from 1980 onwards. The use of the term began to appear in theoretical studies in the 1990s, gaining strength from the 2000s, and the issue, in collective health, is critically inscribed in the multidisciplinary character of the area and, in this sense, the understanding of gender inequalities is situated in the context of the social determination of health. The theme was investigated in the context of an anthropology of domination, seeking to analyse the historical-social context in which the WB has been acting and developing its social practices, the theoretical and ideological references that sustain them, the ways in which the institution has elaborated proposals on gender issues for the Latin American and Caribbean region. Based on the decolonial contributions, I have paid attention to the imperialist/colonialista logics that mark both the delimitation of the continent and the very "idea" of Latin America. Gender has been used in various ways: as opposed to sex, contrasting biological and cultural factors; as an empirical variable instead of an analysis category; as a substitute for women or with an emphasis on the relational aspect, without, however, considering power inequalities. Although rhetorically the WB refers to equity and social justice, its main arguments are, and the issue of gender does not escape the rule, economic and instrumental, far from the consideration of gender in its constitution with class, race and sexuality. The WB has a technical appearance of neutrality in its theoretical practices and proposals, but is highly normative, promoting and building a coloniality of knowledge in the treatment of the issue, which is particularly evident in the construction of representations about women, men and gender. From a decolonial perspective, the gender apparatus that the Bank has been operating can be read as inscribed in the coloniality of gender, which refers to the oppression of racialized capitalist gender. The way in which the WB operates the concept of gender, in conjunction with agency and empowerment, markedly structured by subordination to the market and neoliberal logic, leaves no room for building and strengthening collective bonds of solidarity.
DeCS
Equidade de GêneroGênero e Saúde
Feminismo
Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento
Saúde Pública
Share