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PARECER: INTOXICAÇÕES POR DESINFETANTES E PRODUTOS DE LIMPEZA USADOS NA HIGIENIZAÇÃO GERAL CONTRA COVID-19
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Intoxicações por desinfetantes e produtos de limpeza usados na higienização geral contra COVID-19Affilliation
Fundação Oswaldo Cruz. Fiocruz Brasília. Brasília, DF, Brasil.
Fundação Oswaldo Cruz. Fiocruz Brasília. Brasília, DF, Brasil.
Fundação Oswaldo Cruz. Fiocruz Brasília. Brasília, DF, Brasil.
Abstract in Portuguese
Tecnologia/situação: intoxicações por produtos de higiene usados na prevenção de contaminação de
SARS-Cov-02, evitando contrair a doença COVID-19.
Indicação: população em geral
Caracterização da tecnologia: produtos desinfetantes e de higiene usados para prevenir contaminação
de SARS-Cov-02 em ambientes domésticos e usados pela população em geral. As evidências
apresentadas são as que estão atualmente disponíveis e devem ser revisadas com a finalidade de renovar e
de tornar público dados de importância para a saúde pública.
Contexto e Pergunta: identificação de riscos e danos relacionado a intoxicações com o uso de
desinfetantes e produtos de higienização usados em ambientes domiciliares e pela população em geral.
Tal parecer foi produzido no âmbito no Projeto de Cooperação Ações para Apoio à Governança
Regulatória de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária, parceria entre Anvisa e Fiocruz Brasília pelo
Programa de Evidencias para Políticas e Tecnologias em Saúde (PEPTS). Qual o numero de casos de
intoxicação por desinfetantes e outros produtos de limpeza usados na higienização geral contra COVID-
19?
Busca e análise das evidências científicas: As buscas foram realizadas em janeiro de 2021 nas bases
Medline (via Pubmed), The Cochrane Library, Embase e Lilacs. No total de 494 referencias retirada
duplicidade, 51 foram legíveis para texto completo, sendo 9 referências selecionadas e incluídas neste
parecer. Uma busca adicional no site da Associação Americana de Centros de Controle de Intoxicação
(American Association of Poison Control Centers - AAPCC) permitiu inclusão de outras 4 referencias,
totalizando 13 estudos sobre exposição a desinfetantes e produtos de limpeza.
Resumo dos resultados dos estudos selecionados: A principal fonte de informação usada pelos estudos
foram os registros de ligações telefônicas para centros de intoxicações dos países, em especial Estados
Unidos (USA), França, Canada e Croácia. Houve uma associação temporal entre o aumento das ligações
e o advento da pandemia da COVID-19 pois todos os estudos compararam 2019 e 2020. Os registros
mostraram que crianças com idade ≤5 anos foram as mais afetadas. Entre os produtos de limpeza, os
alvejantes foram os principais responsáveis pelo aumento no número de casos e os desinfetantes sem
álcool ou aqueles usados para as mãos.
Destaca-se três estudos dos USA. Um deles reporta que os principais produtos registrados foram os
desinfetantes sem álcool (1.684; 36,7%) e os desinfetantes para as mãos (1.684; 36,7%). Entre todas as
vias de exposição, as maiores porcentagens de aumento de casos ocorreram pela via inalatória: aumento
de 4.713 para 6.379 casos (35,3%) relacionados a produtos de limpeza e aumento de 569 para 1.188 casos
(108,8%) relacionados aos desinfetantes Chang et al. (2020)11. A outra pesquisa feita também com dados
do AACPP, de janeiro a abril de 2020, procurou analisar os efeitos dos desinfetantes com álcool para
mãos em crianças ≤ 5 anos. Dos 4.451 relatos de exposições, 81 crianças foram encaminhadas para
avaliação médica e 5 delas foram hospitalizadas (0,1%). A maior parte dos relatos de exposições foram
não-intencionais (99,8%). O principal local onde ocorreu a intoxicação foi a própria residência da criança
(96,1%, 4.278/4.451). Os efeitos clínicos foram avaliados como relacionados à exposição (tempo de aparecimento, sinais e sintomas consistentes com a exposição) em 12,4% (96,1%, 4.278/4.451) das
exposições; dentre os efeitos relacionados à exposição, 50% foram oculares (279/554), 56,1%
gastrointestinais (311/554) e 5,6% (31/554) relacionados ao sistema nervoso central Hakimi et al.
(2020)12.
Outro estudo realizado com dados do Centro de Intoxicação de Michigan, mostrou exposições aos
produtos de limpeza e desinfetantes ocorreram em casa (94,8% a 97,1%) e a principal rota de exposição
foi a ingestão em todas as faixas etárias: 73,8% entre crianças ≤ 5 anos, 64,6% entre crianças e
adolescentes de 6 a 15 anos de idade, e 45,8% entre pessoas ≥ 16 anos. Quando combinados todos os
grupos etários, de 2019 para 2020, houve redução das ligações relacionadas a ingestão de produtos
(72,6% para 59,7%, P < 0,001); aumentos para as exposições por inalação (de 7,7% para 13%, P < 0,001)
e dérmica (de 11,3% para 19,1%, P < 0,001); e não houve diferenças para as exposições oculares (de
8,5% para 8,2%; P=0,76). Em crianças e adolescentes, as ligações devido a exposições por ingestão
aumentaram de 73,6% em 2019 para 84,6% em 2020 (P< 0,001) Rosenman et al. (2020)19
Na França, casos de exposição ocular a agentes químicos em crianças foram obtidos na Base de Dados
Nacional de Intoxicações da França (French National Database of Poisonings - FNDP) entre abril e
agosto de 2020 e no mesmo período de 2019. Uma série de casos retrospectiva foi analisada nos mesmos
períodos a partir dos registros eletrônicos de todas as crianças atendidas no departamento de emergência
de um hospital oftalmológico pediátrico. Nos períodos avaliados, houve sete vezes mais casos pediátricos
de exposição ocular aos desinfetantes com álcool para mãos comparando os períodos do estudo (2019 -
2020), sendo 97,8% de gravidade leve ou nula e os sintomas relatados foram dor, sensação de
formigamento ou hiperemia conjuntival. Foram relatados 6 casos de gravidade moderada, com ocorrência
de ceratite e 16 casos de admissões pediátricas no hospital oftalmológico devido à exposição aos
desinfetantes com álcool para mãos: oito crianças tiveram úlcera na córnea e/ou na conjuntiva,
envolvendo mais de 50% da superfície da córnea em 6 delas; 2 casos necessitaram de transplante de
membrana amniótica Martin et al. (2020)18.
No Canada, o estudo com dados do Sistema Canadense de Vigilância de Informações sobre Intoxicação,
mostrou relatos de exposição entre janeiro e junho nos anos de 2019 e de 2020, sendo 3.408 (42%)
relacionadas a alvejantes; 2.015 (25%) a desinfetantes para mãos; 1.667 (21%) a desinfetantes; 949 (12%)
a cloro gasoso; e 148 (2%) ao gás cloramina Yasseen et al. (2020)20.
Na Croácia, o Centro de Controle de Intoxicação da Croácia mostrou aumento no número de casos de
exposição a desinfetantes e desinfetantes para as mãos envolvidos em casos de intoxicações em 2020,
cujas substancias de maior exposição foram, respectivamente, hipoclorito/ glutaraldeído e etanol/ álcool
isopropílico. Tais registros foram mais comuns em adultos (56%), em geral acidentais (78%), através de
ingestão ou inalação (86%) Babic et al. (2020)21
Recomendação: Baseando-se nas evidências disponíveis até o momento, houve aumento dos registros de
exposição a desinfetantes, sendo a maioria com repercussões leves, e em crianças < 5 anos de idade. As
formas graves, consideradas intoxicações forma relatadas nessa faixa de idade, principalmente com
consequências oculares. Os autores recomendam campanhas de alerta ao público com recomendações de
leitura de rótulos, não reuso as embalagens, usar somente água em temperatura ambiente e evitar misturar
produtos químicos, usar proteção nas mãos e olhos, garantir adequada ventilação do ambiente e guardar os produtos fora do alcance de crianças e animais de estimação11,21. Além disso, os desinfetantes para
as mãos não devem ficar disponíveis para uso das crianças, sem supervisão, e as embalagens não devem
ser atrativas de forma a gerarem curiosidade nas crianças.
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