Prevalência de crianças que necessitam de atenção especial à saúde em três municípios brasileiros

Abstract

A Tese foi elaborada no formato de dois artigos: o primeiro apresenta o processo de tradução e adaptação para o português do Brasil do Children with Special Health Care Needs Screener© (CS©), analisa consistência interna e concordância interobservador. Publicado em junho de 2016, nos Cadernos de Saúde Pública, apresenta as etapas de tradução, retrotradução, comissão de revisão e pré-teste. Estatística kappa e alfa de Cronbach avaliaram confiabilidade. O segundo artigo estima a prevalência e descreve o perfil das crianças que necessitam de atenção especial à saúde (CRIANES) em Santa Maria, Ribeirão Preto e Rio de Janeiro. Estudo seccional realizado em 32 unidades básicas de saúde, nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, no período de abril de 2015 a julho de 2017. A estratégia de seleção ocorreu em três estágios, por meio de amostragem complexa. A versão brasileira do CS© foi aplicada a 1001 familiares de crianças, menores de 12 anos, nos serviços de saúde selecionados na amostra. Para análise dos dados foi utilizado o pacote Survey do software R e o total da amostra expandida correspondeu a 6854 crianças. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa das Instituições envolvidas. A prevalência de CRIANES foi 25,3% (IC95%: 21,0 a 30,0). Mais da metade, desse grupo, necessita de acompanhamento nos serviços de saúde ou faz uso de medicamentos para uma condição crônica. As especialidades mais acessadas por essas crianças foram pneumologia, pediatria, fonoaudiologia e neurologia. Cerca de 70% das famílias utilizam a rede pública de saúde, e as CRIANES acessam igualmente atenção secundária/terciária e atenção primária. Predominaram problemas respiratórios, de imunidade e saúde mental. Crianças em idade escolar, do sexo masculino, prematuras, com histórico de hospitalização, que não residem com os pais, provenientes de classe social menos favorecida mostraram-se mais vulneráveis. A magnitude das condições crônicas, a medicalização desse subgrupo populacional bem como os determinantes sociais e materno-infantis reforçam a necessidade de intervenção no campo da saúde pública. Os resultados podem contribuir para o mapeamento dessas crianças na rede de atenção, de estratégias preventivas, e ações que priorizem a transição para a adolescência e idade adulta. A aplicação do instrumento em pesquisas futuras permitirá complementar as análises psicométricas bem como melhorar o planejamento de ações em saúde e a oferta de serviços.