Hospitalização por infecções respiratórias agudas em crianças indígenas Guarani em São Paulo

Abstract

Globalmente, crianças indígenas possuem cargas elevadas de infecções respiratórias agudas (IRA). Estudos de morbidade entre grupos étnico raciais auxiliam na identificação de iniquidades e vulnerabilidades na assistência à saúde. Este trabalho objetivou analisar as hospitalizações por condições sensíveis à atenção primária (ICSAP) e IRA, em particular, em crianças menores de cinco anos no Brasil segundo cor/raça e investigar os fatores associados à hospitalização por IRA em uma coorte de nascimentos indígenas Guarani em aldeias de São Paulo-SP. Na primeira parte do estudo, analisaram-se as hospitalizações por causas segundo cor/raça no Sistema de Internações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS), no período 2009-2014. Foram calculadas proporções de hospitalização por causas e taxas de ICSAP por categorias de cor/raça, antes e após imputação múltipla de dados faltantes. No estudo de base primária, foram utilizados dados do acompanhamento de 106 crianças indígenas Guarani nascidas em três aldeias localizadas em São Paulo/SP. Foram descritas características demográficas e socioeconômicas relacionadas às crianças e estimadas taxas de hospitalização por IRA. Para análise de fatores de risco foi utilizado modelo com abordagem hierarquizado. Neste trabalho foi utilizado o software SAS. No Brasil, as crianças indígenas apresentam os maiores percentuais de internações por agravos respiratórios (53,0%), doenças infecciosas e parasitárias (26%), IRA (47,0%) e CSAP (44,8%), possuindo cerca de cinco vezes mais chances de internar por alguma CSAP (RT: 5,75; IC95% 3,93-8,42) do que crianças brancas no Brasil. Entre os indígenas Guarani de São Paulo/SP, o estudo revelou que as IRA são a principais causas de internação no primeiro ano de vida, 76% do total de registros. Os fatores de risco significativamente associados após ajuste foram: número de eletrodomésticos (até 2; OR: 1,8; IC95% 1,16-2,78); amamentação com colostro (não realizada; OR: 2,6; IC95% 1,03-6,6) e hospitalização prévia por IRA (sim; OR: 2,15; IC95% 1,30-3,55). As hospitalizações de crianças menores de cinco anos por IRA e ICSAP ocorrem de maneira desigual entre as categorias raciais do país, com pior cenário para os indígenas. Estes achados devem refletir os contextos sociais e de saúde que estão inseridos. O estudo longitudinal nas aldeias de São Paulo demonstrou que as IRA permanecem como as principais causas de internação entre os Guarani na infância, e que estão associadas a baixa condição socioeconômica, falta de amamentação precoce e internação anterior por IRA.