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https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/58823
A BRIGADA EMERGENCIAL “4 DE OUTUBRO” NA REGIÃO RURAL DE SOFALA - MOÇAMBIQUE: UMA SOLIDARIEDADE POSSÍVEL
Affilliation
Sem afiliação.
Abstract in Portuguese
No dia 14 março de 2019, houve a passagem do ciclone tropical Idai, de
categoria 4, sendo considerado o maior dos últimos dez anos, devastando uma
grande área das zonas rurais da Província de Sofala, na região central de
Moçambique e países vizinhos como Malawi, Madagáscar e Zimbabwe. A
tempestade atingiu 200 km/h, causando a morte de cerca de 600 pessoas e 15
mil desaparecidos. Estima-se que pouco mais de 1 milhão e meio de pessoas
ficaram desalojadas, com aproximadamente 2.240 casas e mais de 3 mil salas
de aulas destruídas. Mais de 7 mil hectares de plantações foram destruídos,
sendo perdidas também sementes e ferramentas. Inspirada na convergência
da renovação da tradição anticapitalista e anti-imperialista, com as aspirações
humanistas, libertárias, ecológicas, feministas e democráticas, foi criado o
plano de intervenção da Brigada Emergencial “4 de Outubro”, com o objetivo de
prestar solidariedade ao povo moçambicano, a partir de uma perspectiva de
engajamento popular e de trabalho de base, para que as populações
pudessem acreditar nas suas potencialidades de alternativas soberanas de
recuperação e reconstrução de meios e modos de vida (LOWI, 1998; ADECRU,
2019). Após três meses de atuação, O MST (Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra), ADECRU (Acção Académica para o Desenvolvimento dasComunidades Rurais.) e o Partido Socialista da Zâmbia, distribuíram trocas de
conhecimento e saberes populares, no intuído de defender os interesses da
classe camponesa e operária, beneficiando diretamente cerca de 5 mil
pessoas. A Brigada plantou 500m² de hortas agroecológicas. Em Maswíque, foi
erguida uma escola primária e secundária de 90 m², de madeira e barro
coletados na mata local pelos próprios moradores, beneficiando cerca de 130
estudantes. A primeira frente em saúde realizou 664 atendimentos de
enfermeiros e médicos e 47 procedimentos odontológicos, com realização de
procedimentos minimamente invasivos com ART – Tratamento restaurador
Atraumático, e pequenas cirurgias de extração dentária. A segunda frente da
saúde realizou mais de 1.800 consultas; 118 consultas odontológicas; 40
oficinas, como as de prevenção em saúde bucal com aplicação tópica de flúor
e escovação supervisionada em 407 alunos, sendo distribuídas mais de 300
escovas dentais; além de oficinas de confecção de creme dental e pomadas
para lesões e ferimentos com ervas locais, no intuito de emancipar os
moradores que não tinham condições de comprar esses insumos. Esse relato
narra o momento que eu me integrei a esta brigada. Tenham paciência. Serei
detalhista, pois estou falando de um caso de amor que, como em qualquer
outra situação, também tem suas dificuldades, problemas e desafios. E foi
entre essas dimensões que eu me formei cirurgiã-dentista especialista em
saúde da família como residente do Programa Multiprofissional em Saúde da
Família do Campo, e como esse Programa foi um dos fatores que possibilitou
minha ida para Moçambique.
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