Impacto do fluxo de turistas na morbimortalidade por causas externas em pequenos municípios do litoral de São Paulo, Brasil, 2004-2014

Abstract

Dentre as causas externas, os homicídios e acidentes de trânsito lideram os indicadores de mortalidade no país. A dimensão desses problemas de saúde em cidades pequenas com grande fluxo de turistas é pouco conhecida. O objetivo deste trabalho é analisar o impacto do fluxo sazonal do turismo nos agravos e mortes por causas externas em municípios brasileiros turísticos do litoral de São Paulo, no período de 2004 a 2014. Trata-se de um estudo ecológico, de séries temporais diárias, semanais e mensais baseado nos dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e Sistema de Informação Hospitalar (SIH-SUS) no período de 01 de janeiro de 2004 a 31 de dezembro de 2014, tendo como unidades de análise os quatro municípios do Litoral Norte do Estado de São Paulo. As variáveis explicativas utilizadas para analisar o desfecho morbidade/mortalidade por causas externas foram: dia da semana, mês e ano da ocorrência; feriados nacionais; “feriadão” (nacional); feriado local (estadual e municipal em SP); “feriadão” local (estadual e municipal em SP), lei seca (antes e depois), sexo, idade e raça. Os óbitos e internações são em sua maioria homens; na faixa de idade entre 20 a 39 anos para óbitos, e 40 a 59 anos para internações; nas raças branca ou parda. Na análise descritiva, destacam-se as variáveis ano novo, carnaval, tiradentes e república, com médias iguais ou superiores a 5 desfechos por dia. Entre os dias da semana, a segunda-feira e o domingo têm maiores médias Na análise múltipla da base agregada as variáveis que apresentaram maior chance de ter fatores de proteção para o desfecho foram terça-feira (0,90; 0,85 – 0,96), sexta-feira (0,84; 0,79 – 0,90), sábado (0,88; 0,82 – 0,94) e finados (0,65; 0,44 – 0,94), e as variáveis que apresentaram fatores de risco foram segunda-feira (1,11; 1,05 – 1,18), ano novo (1,44; 1,19 – 1,74), republica (1,49; 1,13 – 1,94) e os meses de janeiro (1,11; 1,02 – 1,2) e fevereiro (1,13; 1,04 – 1,23). Após a implantação da lei seca no ano de 2008 houve redução da quantidade de desfechos quando comparado a 2004. Os dados sugerem que a morbidade e mortalidade por causas externas nos municípios do Litoral Norte de São Paulo com grande movimentação de turistas é maior ao longo do período estudado, particularmente na alta temporada. Além do impacto que essas doenças trazem para os serviços de saúde locais, essas ocorrências colocam desafios para as ações de prevenção e promoção da saúde.