Associação entre variáveis clínicas, sociodemográficas e desenvolvimento de eventos adversos no tratamento radioterápico para o câncer de colo de útero

Abstract

A radioterapia (RT) é um dos principais tratamentos para o câncer de colo de útero (CCU), no entanto existem eventos adversos que podem impactar a vida da mulher. Por meio de dois estudos, independentes, esta tese descreveu as características sociodemográficas e clínicas das mulheres com CCU no Rio de Janeiro no período de 2014 a 2018, e analisou a relação entre determinadas variáveis e o desenvolvimento de eventos adversos decorrentes da RT em mulheres com CCU diagnosticadas em 2016, assim como a sobrevida livre dessas complicações. O estudo I é seccional e descritivo a partir de dados do Integrador dos Registros Hospitalares de Câncer (RHC). Análises descritivas e análise de correspondências múltiplas foram empregadas para traçar um perfil multivariado destas mulheres. O estudo II compreendeu uma coorte com 267 mulheres. O seguimento se deu via prontuário físico durante 6 anos após o tratamento inicial. Somado à análise descritiva, foi realizada análise da sobrevida livre de eventos adversos estimada pelo método de Kaplan-Meier e ajustada via modelos de Cox. Estudo I - abrangeu 5.366 mulheres destacando maior ocorrência de diagnósticos entre 18 e 59 anos, cor de pele parda e ensino fundamental incompleto. A análise revelou dois perfis: idosas, pele branca/preta, sem parceiro, estádios avançados; e não idosas, pele parda, com parceiro, estádios iniciais e tipos histológicos diversos (inércia total 63,8%). Estudo II - Constou de 267 mulheres no qual 78,9% apresentaram evento adverso, sendo 62,9% eventos agudos e 46,6% eventos tardios. Radiodermite foi o evento agudo mais frequente (32,6%), enquanto retite actínica se destacou como o evento tardio mais comum (23,2%). Faixa etária (HR 2,08 p=0,018) apresentou risco para desenvolvimento de diarreia. Comorbidades (HR 9,03 p=<0,001) apresentaram risco para desenvolvimento de disúria. Realização de braquiterapia apresentou risco para mais de um evento adverso tardio e estadiamento avançado apresentou risco para o desenvolvimento de fístula vesico-vaginal (HR 2,76 p= <0,001) e retite (HR 1,39 p=0,023). Apesar de passível de prevenção, o CCU ainda se enquadra como problema de saúde pública e seu tratamento com radioterapia, mesmo que curativo, causa impacto na vida da mulher devido aos seus eventos adversos. Isso faculta importância de evidenciarmos o assunto e criarmos estratégias de seguimento desde a implementação da terapêutica até ausência da doença, de forma que a mulher se sinta amparada ao longo de sua jornada de tratamento e recuperação. Além disso, novas táticas de rastreio são necessárias visando identificação precoce, de modo que o tratamento cause o menor evento adverso possível.