Análise espaço-temporal da mortalidade por Síndrome Respiratória Aguda Grave decorrente de COVID-19 e sua relação com as iniquidades étnico-raciais na Amazônia Legal, 2020-2022

Abstract

A crise sanitária causada pela pandemia de COVID-19 evidenciou as desigualdades e falhas do processo de universalização no acesso à saúde no Brasil, tanto entre as áreas geográficas, quanto em estratos populacionais com diferentes características socioeconômicas e de alcance a políticas públicas. A Amazônia Legal, com suas diversas populações, apresenta desafios únicos. Por outro lado, o uso de modelos espaço-temporais em estudos epidemiológicos tem sido de grande importância para entender a propagação da doença e suas relações com fatores socioeconômicos, ambientais, etc. Esse trabalho tem, portanto, o objetivo de investigar a associação entre proporção de pretos, pardos e indígenas e mortalidade por Síndrome Respiratória Aguda Grave causada pela infecção por COVID-19 na área que abrange a Amazônia Legal, no período de 2020 a 2022. Trata-se de um estudo ecológico tendo como unidade de análise espacial os municípios da região e o mês como unidade de análise temporal. Foram calculadas taxas brutas mensais por estado, permitindo visualizar a distribuição ao longo do tempo. Posteriormente, as taxas foram detalhadas a nível municipal para explorar estruturas espaciais. Modelos espaço-temporais Bayesianos foram ajustados para investigar a relação entre a proporção de diferentes categorias de raça/cor e a mortalidade por COVID-19. Os modelos finais incorporaram a proporção da raça/cor, o Índice Socioeconômico do Contexto Geográfico para Estudos em Saúde (Geoses), a interação entre eles e a proporção de idosos. Durante 2020 e 2022, a Amazônia Legal registrou 79.907 óbitos por COVID-19 O Pará liderou com 28,67%, seguido pelo Amazonas (20,14%). As taxas mensais mostraram crescimento até julho de 2020, declínio breve e novo aumento a partir de dezembro. Picos ocorreram em janeiro de 2021 e abril de 2021. A partir de maio de 2021, as taxas declinaram. Padrões espaciais revelaram que áreas no noroeste, norte e nordeste do Amazonas, municípios ao oeste do Pará, Roraima, Mato Grosso e Tocantins apresentaram as maiores taxas de mortalidade em 2020 e 2021. Os modelos espaço-temporais revelaram associações significativas, indicando a influência do fator raça/cor e do contexto socioeconômico nas taxas de mortalidade. Observamos que à medida que a proporção de população vulnerabilizada aumenta, a taxa de mortalidade tende a aumentar para todas as populações, especialmente no cenário em que o Geoses atinge seu valor máximo. A análise por raça/cor revelou padrões distintos, evidenciando desigualdades. Os resultados evidenciaram a complexidade da dinâmica de mortalidade, destacando disparidades socioeconômicas e demográficas.