Trabalho e saúde no “Sistema de Gestão de Pessoas” da Fiocruz: modos de agir face ao real da atividade

Abstract

Considerando o trabalho como categoria central na vida das pessoas e na polaridade dinâmica do processo saúde-doença, buscou-se analisar a relação trabalho-saúde dos/as profissionais do Sistema de Gestão de Pessoas da Fiocruz na perspectiva de ampliar seus modos de agir face ao real da atividade. Ancorando-se no ponto de vista da atividade, especialmente na Ergologia, foi realizado levantamento documental e entrevistas com atoreschave (AC), foi aplicado o Questionário Saúde e Trabalho em Atividades de Serviço para os/as trabalhadores/as e realizados Encontros sobre o Trabalho com eles. Os/as participantes puderam se reconhecer nas dificuldades vivenciadas pelos colegas e compartilhar seus modos operatórios, gerando um sentimento de pertencimento com o grupo. A pesquisa reiterou o referencial teórico, afirmando que o trabalho real contempla exigências que muitas vezes não são consideradas e que colocam os/as trabalhadores/as em uma dramática do uso de si diante dos debates de normas e valores. Entre elas, destacou-se as mudanças constantes no trabalho, a exigência de ser multitarefa, as dificuldades na função de atendimento, as implicações dos diferentes vínculos de trabalho e a complexidade da função de mediação de conflitos. Entende-se que os/as participantes precisam fazer um grande e constante investimento de si para se manterem atualizados e qualificados, lidarem com a sobrecarga de trabalho e atuarem em diferentes frentes de trabalho, muitas vezes, sem condições adequadas para tal. Isto aponta para a vivência de uma penosidade e aumento da intensidade do trabalho, um sentimento de angústia, frustração e incapacidade, bem como a falta de reconhecimento de sua profissionalidade na relação com o usuário Diante das infidelidades do meio, os/as trabalhadores/as se engajam na síntese dos ingredientes para o agir em competência, com a conjugação do domínio dos conhecimentos codificados com sua experiência, o aproveitamento dos recursos do meio, o compartilhamento dos valores de bem comum e o suporte do coletivo. Identificou-se que as condições (espaços de trabalho e de pausas inadequados), relações (violência e desqualificação pelos usuários/as) e organização do trabalho (mudanças constantes, exigência da polivalência, diversidade de vínculos, sobrecarga, retrabalho) geram um quadro de sofrimento para esses/as trabalhadores/as. Aponta-se para a importância da criação e fortalecimento de espaços dialógicos em que se evidencie e estimule os debates de normas e renormatizações para construção de soluções pertinentes, revitalizando o coletivo, ampliando as reservas de alternativas e desenvolvendo a atividade, para que esta seja fonte de saúde e de produção de sentido no trabalho. Palavras-chave: saúde; trabalho; gestão de pessoas; competência.