Impacto da pandemia de Covid-19 no perfil de morbidade, vigilância dos casos e mortalidade por Tuberculose Pulmonar no município do Rio de Janeiro, de 2010 a 2021

Abstract

Até a pandemia de coronavírus (COVID-19), a Tuberculose (TB) era a principal causa de morte por um único agente infeccioso, ficando acima do HIV/Aids. Os progressos alcançados ao longo dos anos anteriores à pandemia estagnaram ou se reverteram, e a retomada das ações ainda está aquém do necessário. Estima-se que, no primeiro ano da pandemia, no mundo, aproximadamente 10,1 milhões de pessoas desenvolveram TB, mas apenas 5,8 milhões (57,4%) foram diagnosticadas e notificadas, uma redução de 18% em relação a 2019, quando os países notificaram 7,1 milhões de casos dos 10 milhões (71%) estimados. Cerca de 4.500 pessoas vão a óbito, anualmente, por TB no país. A presente tese buscou avaliar o impacto da pandemia de COVID-19 nos perfis de morbidade, na vigilância de casos e o excesso de mortalidade por tuberculose pulmonar no município do Rio de Janeiro, segundo a área de planejamento, de 2010 a 2021. Métodos: Foi realizado um estudo seccional e um ecológico misto com dados secundários individuais das bases do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e do Sistema de Informações Sobre Mortalidade (SIM). Para avaliação do impacto da COVID-19 na mortalidade por tuberculose, foi utilizado o modelo matemático de Philippe Glaziou, aplicado no estudo realizado pela OMS para medir o impacto da pandemia na mortalidade por TB. Resultados: Foram notificados 93.772 casos de TB no município do Rio de Janeiro no período de estudo. Em 2020 foram notificados 8093 casos, uma redução de 9,4% em relação ao ano de 2019. Em todas as regiões do município, houve aumento na proporção de casos em negros, de beneficiários de programa de renda, assim como da realização de tratamento diretamente observado (TDO). A maior parte dos casos ocorreu em homens, com idade entre 16 e 34 anos Por outro lado, os casos de pacientes com TB e Aids reduziram durante a pandemia. Para o MRJ tem-se uma predição de 1.364 óbitos por TB que são atribuídos a pandemia de COVID-19, sendo 194 entre portadores de HIV e 1.170 entre não portadores de HIV, o que equivale a um excesso de 45,7% de óbitos anualmente. A pandemia atingiu as áreas de planejamento de forma heterogênea, de modo que a AP 2.1 possui uma predição de mortalidade de 97,2% e a AP 5.1 não possui predição de óbito. Conclusão: O estudo identificou que houve mudança no perfil epidemiológico dos casos notificados no período pandêmico, assim como nas questões clínicas, de diagnóstico e acompanhamento dos casos, causados pela pandemia. O excesso de mortalidade predito tem como fator determinante a pandemia, aliada a precariedade social e resposta ineficiente da gestão dos sistemas de saúde.