Três Dom Quixotes contra um moinho de vento: trajetórias de licenciados em física com deficiência visual

Abstract

O ensino de Física para pessoas com deficiência visual já é uma realidade nas Universidades brasileiras. Buscando compreender como vem ocorrendo a inclusão desse público na graduação em Física, o estudo conduzido investiga, junto aos licenciados em Física que experienciaram as vivências de ser uma pessoa com deficiência visual em processo de formação acadêmica, como os docentes e as instituições de ensino superior recebem e se reorganizam, para atender às diversas necessidades específicas desses estudantes. Entendendo que a deficiência visual é mais do que apenas uma característica biológica, partimos do pressuposto de que tal deficiência é também uma construção social que vem se alterando ao longo do tempo até que a inclusão das pessoas com deficiência visual na escola e sociedade seja compreendida como um direito. Nessa perspectiva, vivenciar a deficiência visual é mais do que apenas possuir uma diferenciação biológica da visão; trata-se também do fato de que as pessoas que não têm uma visão específica, quando comparadas à uma normalidade, encontram barreiras impostas por um mundo hegemonicamente construído pelo viés da normovisualidade: assim a deficiência visual é vivenciada. As universidades e o meio escolar fazem parte dessa construção que é histórica. A fim de levantar material, passível de análise, acerca dessas vivências, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com três licenciados em Física, conduzidas individualmente, em formato remoto, a partir de um roteiro preestabelecido. Os dados obtidos pelas entrevistas foram analisados com base na análise do discurso de Bakhtin, que é coerente com os referenciais desta pesquisa, sendo eles a teoria histórico-cultural de L. S. Vigotski, o ensino de ciências inclusivo de Eder Pires de Camargo e a educação libertadora de Paulo Freire. A criação de ambientes transversalmente inclusivos dentro das universidades surge como alternativa para fomentar a inclusão de todos os estudantes, assim como o preparo anticapacitista de professores e gestores, para entender as pessoas com deficiência visual como detentoras de potencialidades, e não apenas como seres com especificidades, diferentes aos demais.