Via de nascimento, aleitamento materno na primeira hora de vida e uso de fórmula infantil durante a internação hospitalar

Abstract

A amamentação na primeira hora de vida da criança seguida da manutenção do aleitamento materno exclusivo durante todo o período de internação hospitalar promove a formação do vínculo mãe-bebê, podendo favorecer maior duração do aleitamento materno e redução da morbimortalidade neonatal. A via de nascimento pode determinar a ocorrência do aleitamento materno na primeira hora e a utilização de fórmula infantil durante a internação hospitalar. Entretanto, pouco se conhece sobre a magnitude dessas relações em países da América Latina e Caribe. A presente tese tem dois objetivos principais: estimar a associação entre aleitamento materno na primeira hora de vida e parto vaginal em países da América Latina e Caribe (artigo 1) e investigar a associação entre uso de fórmula infantil durante a internação hospitalar e nascimento por cesárea no Brasil (artigo 2). Para o primeiro objetivo, foram analisados os dados seccionais mais recentes e disponíveis das Pesquisas de Demografia e Saúde (DHS) da Bolívia (2008), Colômbia (2010), Guatemala (2015), Guiana (2009), Haiti (2017), Honduras (2012), Peru (2012) e República Dominicana (2013), considerando crianças até 24 meses e suas respectivas mães. Modelos logísticos foram usados para estimar a associação entre o parto vaginal e a amamentação na primeira hora de vida, com ajuste para características sociodemográficas, maternas e da criança. Para o segundo objetivo foram utilizados dados do inquérito populacional de base domiciliar “Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI-2019)”, tendo como público-alvo crianças até 24 meses e suas mães. Modelos logísticos foram utilizados para testar a associação entre o uso de fórmula infantil na internação hospitalar após o nascimento e a cesárea. A prevalência média de amamentação na primeira hora de vida foi 57,2%, variando de 43,2% na República Dominicana a 63,8% em Honduras O parto vaginal foi associado a maiores chances de amamentação na primeira hora em comparação a cesárea (Oddis Ratio [OR] variou de 2,3; IC95% 1,7-3,1 a 22,4; IC95% 16,5-30,4 no modelo ajustado, na República Dominicana e Honduras, respectivamente) (artigo 1). A prevalência do uso de fórmula infantil na internação hospitalar do recém-nascido no Brasil foi de 22,4%. Bebês nascidos por cesárea eletiva ou de urgência tiveram duas vezes mais chances de utilizarem fórmula infantil na internação hospitalar após o nascimento em comparação aos nascidos por parto normal (Cesárea eletiva: OR 2,43; IC95% 1,75-3,39. Cesárea de urgência: 2,38; IC95% 1,74-3,25, nos modelos ajustados) (artigo 2). Conclui-se que o parto vaginal contribui para a maior prática de aleitamento materno na primeira hora de vida. A cesárea pode ser considerada uma barreira para o aleitamento materno na primeira hora de vida e um fator de risco para o uso de fórmula infantil durante a internação hospitalar após o nascimento. Destaca-se a importância da adoção de ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno desde o pré-natal, assim como de estratégias para que a amamentação ocorra ainda na sala de parto e de modo exclusivo durante todo o período da internação hospitalar após o nascimento.