Lipídeos dietéticos e ácidos graxos plasmáticos e sua associação com doença hepática gordurosa não alcoolica em pessoas vivendo com HIV/AIDS

Abstract

Introdução: A doença hepática gordurosa não-alcóolica (DHGNA) pode acometer até 40% das pessoas vivendo com HIV/AIDS (PVHA). Os lipídeos são peças chaves na patogênese e evolução desta doença. Porém, poucos estudos descreveram a relação dos lipídeos com DHGNA em PVHA. Objetivos: Avaliar ingestão de lipídeos e concentração plasmática de ácidos graxos (AG) e sua relação com a DHGNA e fibrose hepática. Métodos: Esta tese é composta por estudo transversal e estudo caso-controle utilizando dados da visita 1 (baseline) de indivíduos com mono-infecção pelo HIV incluídos no estudo de coorte PROSPEC-HIV (NCT02542020). Total de 721 participantes foram submetidos aos seguintes procedimentos: aferição de medidas antropométricas e avaliação de percentual de gordura corporal por bioimpedância elétrica; coleta de sangue para exames laboratoriais; avaliação clínica, avaliação nutricional, elastografia hepática transitória e avaliação do consumo alimentar por recordatório alimentar de 24h. Investigação sobre fibrose hepática e concentração plasmática de AG (por cromatografia a gás) foi realizada com sub-amostra de 142 participantes [71 indivíduos com fibrose hepática (caso) e 71 controles (sem fibrose)]. Modelos de regressão logística multivariada ajustados por fatores de confundimento foram realizadas nas diferentes análises. Resultados: Participantes com maior ingestão usual de gordura total apresentaram maior probabilidade de apresentar DHGNA em comparação aos de menor consumo [odds ratio ajustado (ORa): 1.91 (intervalo de confiança de 95% (IC95%) 1,06 -3,44)]. Participantes com moderada ingestão AG láurico [0,42 (IC95% 0,22-0,78)] tiveram menor probabilidade de apresentar DHGNA comparados com indivíduos com menor ingestão deste AG. Além disso, uma maior ingestão usual de AG miristoléico foi associada a menor probabilidade de apresentar DHGNA [0,56 (IC95% 0,32-0,99)]. Já os participantes com maior ingestão [ORa (IC95%)] de AG láurico [0,38 (0,18-0,80)], AG mirístico [0,38 (0,17-0,89)], AG palmitoléico [0,40 (0,19-0,82)] e AG oleico [0,35 (0,16-0,79)] demonstraram menor probabilidade de apresentar fibrose hepática quando comparados aos participantes com baixa ingestão desses FA. Por outro lado, o maior consumo de PUFA n-6 foi associado à presença de fibrose em comparação com os de menor ingestão [ORa=2,45 (IC95% 1,12-5,32)]. Em relação a concentração plasmática de AGs demonstramos que a maior concentração do AG palmítico está associada de forma independente com presença de fibrose hepática [ORa= 1,23 (IC95% 1,04-1,46); p=0.02]. Conclusão: Esses resultados enfatizam o importante papel dos lipídeos na patogênese de DHGNA e/ou fibrose hepática em PVHA. Reforçando assim a importância da avaliação e intervenção nutricional no cuidado a esta população