Consumo alimentar e saúde mental durante o distanciamento social em decorrência da pandemia de COVID-19 nos participantes do ELSA-Brasil

Abstract

A resposta global à COVID-19 envolveu uma mobilização sem precedentes de recursos e estratégias de saúde pública, para desenvolver tratamentos e vacinas, além de medidas de suporte econômico e social para mitigar seus possíveis impactos. Medidas de distanciamento social foram adotadas para retardar a propagação da epidemia e evitar o colapso dos serviços de saúde. Apesar da extrema importância para garantir a saúde física, a adoção das medidas de distanciamento social acarretou implicações adversas nas esferas social, econômica e psicológica, acentuando, por exemplo sintomas de depressão e ansiedade, além de provocar mudanças comportamentais como alterações no consumo alimentar. Buscando compreender o impacto das medidas de distanciamento social no consumo alimentar, essa tese foi elaborada em dois artigos com objetivo de, no 1o artigo: estimar através de modelos de regressão logística a associação entre a adesão às medidas de distanciamento social e os marcadores de consumo de alimentação saudável, o consumo de alimentos ultraprocessados (AUP), as mudanças na aquisição e no preparo de alimentos durante a pandemia de COVID-19. No 2o artigo: investigar através de modelos de equações estruturais (MEE) o papel mediador dos sintomas de transtornos mentais (depressão e ansiedade) na associação entre o estresse decorrente da adesão às medidas de distanciamento social e o consumo de AUP Para tal, foram utilizados dados dos 5639 participantes do estudo suplementar do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSABrasil), realizado entre junho de 2020 e março de 2021, durante a pandemia de COVID-19. Os resultados do 1o artigo demonstraram elevada adesão ao distanciamento social, com maiores chances de consumo de alimentos saudáveis, maior aquisição de alimentos in natura e aumento no preparo de alimentos em casa entre os participantes que aderiram totalmente às recomendações de permanecer em casa, em comparação àqueles que não aderiram. Já os do 2o artigo sugeriram um efeito mediador dos sintomas de transtornos mentais na associação entre o estresse decorrente do distanciamento social sobre o consumo de AUP. Esses achados colaboram para compreender melhor os fatores elencados como potenciais preditores no consumo alimentar em um momento de crise sanitária como a pandemia de COVID-19, além de informar a necessidade de políticas e intervenções precoces em eventuais situações estressantes, com foco na promoção da saúde mental, o que, por conseguinte, poderão contribuir para a prevenção ou redução do consumo de alimentos não saudáveis, como os AUP.