O curso “Saúde Comunitária: Uma Construção de Todos”: estudo de uma estratégia educacional promotora da saúde para a cidadania, em comunidades com vulnerabilidade em socioambiental no estado do Rio de Janeiro

Abstract

O curso “Saúde Comunitária: Uma Construção de Todos” trabalha as temáticas de saúde e ambiente do território, tendo o morador de áreas com vulnerabilidade socioambiental como o ator central do processo, na perspectiva da educação popular em saúde, que lhe possibilite a análise da realidade do seu território para promover a participação comunitária democrática em prol da transformação social. O curso se situa no campo da educação não formal e utiliza metodologias participativas baseadas em miniprojetos sociocomunitários como estratégia de ensino-aprendizagem, tendo como preceito a Educação Popular, preconizada por Paulo Freire. O objetivo geral deste estudo foi avaliar o curso como uma estratégia educacional promotora da saúde para a cidadania, em comunidades com vulnerabilidade socioambiental, no Estado do Rio de Janeiro. Trata-se de uma pesquisa em ensino, documental, social, qualiquantitativa, descritiva, exploratória e retrospectiva, que analisou o processo de ensino-aprendizagem, seus aprendizados e desenvolvimento de competências. Foram utilizados o banco de dados do curso e instrumentos avaliativos aplicados. Os dados do perfil do público-alvo, na perspectiva do controle socioambiental da saúde, foram analisados por estatísticas simples. As respostas dos alunos egressos foram exploradas pela Análise de Conteúdo de Bardin (1977), através do programa ATLAS.ti.22. Na etapa da organização foi constituído o corpus e propostos indicadores de aprendizagem e competências. Foram realizadas as codificações (unidades de registro), que resultaram em mapas conceituais de rede e em uma nuvem de palavras. Desde 2010 até 2019, o curso formou 912 alunos moradores de 50 comunidades do Estado Rio de Janeiro, a maioria de Manguinhos (37%) e Maré (8%). A renda da maioria foi de até dois salários-mínimos, com escolaridade de ensino médio (73%) e ensino fundamental (17%). A motivação era ‘‘conhecimento’’, ‘‘oportunidade’’, ‘‘aprender’’ e ‘‘currículo’’. Os alunos responderam que o curso ajudou no seu dia a dia (94,6%) e 86,7% afirmaram que modificaram algum hábito no seu dia a dia. Como indicadores de aprendizagem crítica sobre os determinantes socioambientais da saúde e dos processos promotores da saúde, foram gerados quatro códigos principais: ‘‘Saneamento’’, ‘‘Prevenção’’, ‘‘Saúde’’ e ‘‘Cidadania’’, que se destacam e se ramificam em vários subcódigos relacionados, sendo o código mais frequente ‘‘Saúde’’. Para os indicadores de desenvolvimento de competência, que podem impactar na promoção da saúde para a cidadania, foram gerados dois códigos principais ‘‘Higiene’’ e ‘‘Saúde’’, que se ramificam em subcódigos prevalentes como: ‘‘água’’, ‘‘alimentação’’ e ‘‘cuidado’’. Outros códigos independentes como ‘‘Conhecimento’’ e ‘‘Hábitos’’ também foram frequentes no contexto de percepção de algo a ser modificado e de modificação no dia a dia. O curso atingiu o objetivo de construir conhecimentos que possibilitem compreender a teia de relações entre os determinantes socioambientais da saúde, a organização do território e o fortalecimento comunitário para a promoção da saúde local, pois os dados confirmam que o curso não é só uma estratégia educacional, mas também uma incubadora sociotécnica de multiplicadores de saberes. Desta forma, através do processo ensino-aprendizagem foi construída a capacidade de promover saúde e cidadania, por meio do desenvolvimento das habilidades e competências, resultando em modificação no cotidiano dos territórios.