Sexualidade e gênero na pesquisa e na prática de Ensino em Biociências e Saúde

Abstract

A emergência e impactos da epidemia de HIV/AIDS, somados ao número de casos de gravidez na adolescência, aumentaram a demanda por trabalhos na área da saúde sexual e reprodutiva no contexto escolar e contribuíram para a inserção do tema transversal \201COrientação Sexual\201D nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Em meio às dificuldades descritas na literatura para a abordagem de questões envolvendo sexualidade e gênero, o curso Gênero e Diversidade na Escola (GDE), proposto pelo Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) em convênio com Universidades Públicas, busca capacitar professores/as para trabalhar tais temáticas. O objetivo da presente pesquisa foi analisar a influência do curso GDE na prática pedagógica de professores/as de ciências do 6° ao 9° ano do Ensino Fundamental da rede pública do Estado do Rio de Janeiro em relação aos temas sexualidade e gênero. O trabalho foi estruturado em duas etapas complementares: 1. Revisão bibliográfica em periódicos da área de ensino/educação, buscando compreender como os referidos temas são abordados na produção acadêmica; 2. Entrevistas semi-estruturadas com um grupo de 12 professores/as de ciências do Estado do Rio de Janeiro que cursaram o GDE, focalizando os efeitos do curso na prática pedagógica. Os resultados da revisão bibliográfica apontam os avanços nas abordagens do tema incorporando progressivamente a perspectiva sociocultural da sexualidade nas práticas escolares. Ressaltam também a dificuldade na discussão de temas tabus como a homossexualidade e a persistência das diferenças de gênero na avaliação da aprendizagem Foram feitas várias criticas aos PCN, indicando amadurecimento das investigações e perspectivas de mudanças. As entrevistas com os/as professores/as revelam as diversas contribuições que o curso GDE ofereceu para a prática pedagógica, e em alguns casos para a vida pessoal. Apontam para a permanência de lógicas e costumes tradicionais além das dificuldades em implementar a proposta final do curso. Os depoimentos assinalam para a necessidade de formação continuada de profissionais da educação e de iniciativas de consolidação das ações dentro das instituições escolares. Revelam as difíceis condições de trabalho, falta de incentivos e entraves diversos que aumentam o sentimento de isolamento entre esses profissionais que lutam por modificar uma realidade. Contudo, pequenas iniciativas, ainda que em diferentes intensidades, trazem contribuições importantes ao cotidiano, apontando para o início da construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Conclui-se que inserir o tema em sala de aula depende quase que exclusivamente da iniciativa e disposição pessoal do/a professor/a em enfrentar todas as adversidades na afirmação dos direitos de igualdade. Espera-se que esse trabalho possa contribuir para a transformação das práticas escolares, desestabilizando padrões pré-concebidos, além de ampliar a divulgação de pesquisas na área de Ensino de Ciências