Identidade e gênero em cenas do cinema : um estudo sobre o ensino de Educação Física e a construção dos corpos no contexto escolar

Abstract

A Educação Física como disciplina presente no currículo escolar do ensino médio tem no corpo em movimento o seu principal foco de estudo. Como as outras disciplinas, atua também no processo de formação de estudantes, introjetando determinados valores e regras que orientarão os seus comportamentos e suas relações com o mundo e a sociedade, promovendo uma socialização que muitas vezes sobrepõe autonomia e controle social de acordo com rotinas culturalmente estabelecidas. Desse modo, partimos do pressuposto que os corpos discentes podem ser considerados como um documento vivo, que pode ser lido e interpretado como um texto, já que traz as marcas dos valores sociais do passado e do presente, expressando desigualdades de gênero e apontando o seu caráter socialmente construído. Este estudo partiu da indagação de como o ensino da Educação Física na escola de nível médio reproduz ou ameniza as assimetrias e expressa uma construção dos corpos pelo viés de questões de gênero. O objetivo geral foi compreender como se expressam, mediatizados por cenas de cinema, os aspectos constitutivos das identidades sociais e da construção social dos corpos na perspectiva das relações de gênero em aulas de Educação Física em uma escola pública do ensino médio Como parte deste objetivo, buscamos descrever como docentes e discentes atuam no ensino e contribuir para o aprimoramento das propostas de ensino na Educação Física com base nos referenciais teórico-metodológicos adotados na pesquisa referentes ao respeito às diferenças e à coeducação entre os gêneros por uma perspectiva intercultural. Adotamos uma metodologia com abordagem antropológica que visa à interpretação dos fenômenos socioculturais e à atribuição de fenômenos sociais e significados culturais em contextos específicos. De modo convergente a esta perspectiva, o uso do cinema almejou promover um olhar de empatia relacionado aos temas da pesquisa na relação com o outro. Foi desenvolvida revisão bibliográfica que incluiu levantamento de questões acerca da abordagem de identidade e gênero na produção na área de Educação Física, análise de filmes (Tomboy, Billy Elliot e As melhores coisas do mundo) e trabalho de campo onde foram realizadas entrevistas em grupo e observação das interações no contexto de aulas. As entrevistas em grupo foram realizadas com o uso de cenas de dois filmes (Billy Elliot e Tomboy) com dois docentes de Educação Física e seis discentes envolvidos no processo de ensino de nível médio de uma escola estadual no estado do Rio de Janeiro Nas interações no trabalho de campo, observamos a contribuição das aulas na modelação do corpo normalizado e naturalizado a partir de modelos identitários fixos não problematizados, o que pode reforçar subjetivamente uma expectativa socialmente aceita. Identificamos nas práticas escolares classificações e hierarquizações entre sujeitos em estruturas binárias como \201Cnós\201D e os \201Coutros\201D: normal/anormal, homem/mulher, homossexual/heterossexual, entre outras. Ao mesmo tempo, encontramos questionamentos sobre relações de poder, problematizando esses binarismos produzidos na construção da identidade e da diferença. Buscamos com esta pesquisa contribuir para gerar mudanças nas relações de poder no processo de ensino, na adequação metodológica e didática, na seleção de conteúdos escolares e na consequente construção do espaço de xvi ensino; tudo isso, visando a uma educação mais equitativa, crítica, que respeita e estimula as diferenças.