Associação da autoavaliação do estado de saúde com o índice da dieta planetária saudável em participantes do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-BRASIL)

Abstract

A literatura científica vem apontando ao longo dos últimos anos para a necessidade de realização de estudos que possam mensurar o impacto de adoção de dietas saudáveis e sustentáveis por diferentes populações sobre a saúde planetária e humana. Estudos de validação de índices que mensuram a saudabilidade e a sustentabilidade de dietas, como o Planetary Health Diet Index (PHDI), e de aplicação destes para verificar a associação com desfechos em saúde como obesidade, doenças cardiovasculares e câncer vêm sendo conduzidos, porém parece não haver estudos que testem a relação entre a adesão a dietas saudáveis e sustentáveis com medidas de qualidade de vida, como a autoavaliação de saúde, utilizada em inquéritos de saúde por ser preditora de risco de complicações em saúde e morbimortalidade. O objetivo dessa tese foi avaliar a associação entre a aderência a uma dieta saudável e sustentável e a autoavaliação de saúde na população do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSABrasil). Trata-se de uma análise seccional, utilizando dados dos participantes da onda 1 (2008- 2010) do ELSA-Brasil. A sustentabilidade da dieta foi mensurada por meio do PHDI, índice baseado nas recomendações do EAT-Lancet e composto por 16 itens divididos em quatro categorias, podendo gerar escores de 0 a 150 pontos, após aplicação desse índice aos dados de consumo alimentar dos participantes. A autoavaliação de saúde foi medida por questionário específico do estudo, sendo categorizada em 3 níveis (Muito boa, boa e regular, ruim e muito ruim). Modelos de regressão logística multinomiais foram aplicados para avaliar a associação entre a exposição e o desfecho Foram incluídos 15.076 participantes no estudo. A maioria era do sexo feminino, pertencentes a categoria funcional de nível superior docente, com ensino superior completo ou mais, casados ou em união estável, de cor branca e com mediana de idade da população foi de 51 anos. Participantes do quartil 4 de PHDI apresentaram 14,6% menor chance de ter autoavaliação de saúde “Boa” comparado a autoavaliação “Muito boa”, independente dos confundidores. Os resultados sugerem a presença de associação entre o PHDI e a autoavaliação do estado de saúde. Pessoas que se autopercebem com estado de saúde “Bom” possuem menor PHDI comparado àquelas que se autopercebem com “Muito bom” estado de saúde. O entendimento dessa relação pode ser importante para formulação de novas políticas públicas em alimentação e nutrição no sentido de propor medidas a nível populacional, como a incorporação de orientações específicas para a sustentabilidade e saúde dentro dos guias alimentares nacionais, e a nível individual, ao conscientizar as pessoas da importância de aderir a dietas mais saudáveis e sustentáveis.