Origens históricas, identidade profissional e educação de técnicos em citopatologia no Brasil: desafios e perspectivas

Abstract

O câncer de colo do útero é o segundo tipo de câncer mais incidente entre as mulheres no mundo, sendo responsável pelo óbito de cerca de 275 mil mulheres por ano. Para sua prevenção e cura o diagnóstico precoce é fundamental, e os técnicos em citopatologia são os responsáveis por orientar a determinação diagnóstica de 70 a 90% dos casos. Este estudo tem como objetivos apresentar e discutir principais questões e desafios na atualidade dos citotécnicos, e trazer contribuições teóricas para a construção de um pensamento crítico sobre a formação e o trabalho destes técnicos no Brasil. Trata-se de uma pesquisa aplicada, de cunho descritivo, com uma abordagem qualitativa, utilizando a pesquisa bibliográfica e documental, e o relato de experiências pertinentes à discussão realizada. Contempla o desenvolvimento do diagnóstico do câncer de colo do útero e da técnica de Papanicolaou, e como ela se consolidou como instrumento primário do rastreamento do câncer de colo do útero. Discute as correlações históricas existentes entre o desenvolvimento das políticas de rastreamento do câncer e a educação profissional destes citotécnicos, para apontar como os laboratórios de citopatologia tornaram-se um campo de competição entre categorias profissionais, e como os citotécnicos estão vulneráveis por não possuírem uma regulamentação profissional. Constata-se a necessidade de definir a nomenclatura e as reais atribuições destes técnicos para consolidar sua identidade profissional, e o papel dos Ministérios do Trabalho e Emprego, da Educação e da Saúde neste cenário, bem como os avanços obtidos neste debate. Sugere-se que sua área de atuação seja chamada de Citotecnologia e o trabalhador de Técnico em Citopatologia, e são apresentadas as justificativas para essa escolha Quanto à reflexão de como a educação profissional se consolida historicamente de forma dual no país, como resposta aos anseios transitórios do Capital, e como isso limita a atuação destes técnicos em citopatologia ao campo do trabalho simples, Identifica-se a potência da pedagogia histórico-critica como alternativa, assumindo a centralidade do trabalho no processo educativo e favorecendo a construção de uma educação omnilateral e politécnica, tendo como foco a emancipação do homem e a transformação da sociedade. Esta uma transformação essencial para a educação profissional na área, impactando diretamente no fortalecimento do SUS, melhorando a qualidade e cobertura dos programas de rastreamento, e, seguindo esta mesma tendência crítica, construindo estratégias de formação continuada e incorporando à realidade dos serviços de citopatologia no país as novas tecnologias de diagnóstico do HPV por PCR que, conforme as orientações mais recentes da Organização Mundial de Saúde, passam a ser o novo modelo de rastreamento primário do câncer de colo do útero